Bernardo Santos apresenta Iberian Nights

“é possível redescobrir repertório caído no esquecimento, trabalhá-lo, trazê-lo novamente aos palcos de salas de concerto”

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Sandra Bastos

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No seu mais recente projeto discográfico, Iberian Nights, Bernardo Santos une as Noites nos Jardins de Espanha de Manuel de Falla às Noites nas Ruas da Mouraria de Ruy Coelho — uma aproximação inédita entre dois universos ibéricos. Fruto de anos de investigação, concertos e gravações, este trabalho marca não só o resgate de uma obra praticamente desconhecida, mas também a reafirmação de uma missão artística: dar voz às partituras silenciadas da história. Mais do que intérprete, é também editor, investigador e programador cultural, num percurso marcado por uma dedicação rara ao património musical nacional. Ao longo do artigo, percorremos a trajetória deste jovem pianista, desde os primeiros passos até à projeção internacional, entre palcos, arquivos e projetos ambiciosos.

 

 

Noites nos Jardins de Espanha de Falla e Noites nas Ruas da Mouraria de Ruy Coelho

 

 

O novo disco de Bernardo Santos - Iberian Nights, apresenta as Noites nos Jardins de Espanha de Falla e Noites nas Ruas da Mouraria de Ruy Coelho. O título é justificado por ser “um CD com obras com repertório concertante programático, especificado através do título de cada obra e respetivos andamentos, compostas por dois compositores ibéricos”. ´

 

A ideia de reunir estas duas peças nasceu de uma conversa com o pianista Artur Pizarro, no verão de 2017: “O Artur disse-me que havia uma ideia muito interessante para se desenvolver, pois, além destas Noites espanholas, existia a “obra-irmã” portuguesa, de Ruy Coelho, Noites nas Ruas da Mouraria, e que valia a pena apresentá-las em conjunto”.

 

Na altura, Bernardo Santos “pouco ou nada conhecia de Ruy Coelho”. O desafio lançou-o numa investigação profunda, que acabaria por dar origem à sua tese de doutoramento sobre a obra para piano e orquestra do compositor português. Assim, descobriu que Manuel de Falla e Ruy Coelho mantinham “uma relação de amizade  e de admiração mútua” e que “Coelho foi também um forte divulgador da música de Falla em Portugal nas décadas de 1920 e 1930, o que leva a crer que a semelhança temática entre as duas obras concertantes deste CD não seja pura coincidência”.

 

 

“o papel do piano vai alternando entre momentos virtuosísticos, típicos dos grandes concertos românticos, e situações de música de câmara”

 

 

Para Bernardo Santos, ao contrário do modelo romântico de concerto, em que o piano se impõe com virtuosismo, estas Noites desenham um equilíbrio mais subtil entre piano e orquestra. “De certa forma, há uma fusão entre o piano e a orquestra em que se procura, mais que tudo, a criação de efeitos e sonoridades que façam alusão aos ambientes, locais e conceitos associados a cada um dos andamentos de cada uma das obras”, explica.

 

Com efeito, “o papel do piano vai alternando entre momentos virtuosísticos, típicos dos grandes concertos românticos, e situações de música de câmara, de efeitos sonoros e de acompanhamento”.

 

 

“A relação entre o piano e a orquestra é também peculiar, exigindo uma interação que vai além do simples acompanhamento do solista”

 

 

O CD foi gravado com a Orquestra Filarmónica Portuguesa, sob direção do maestro Osvaldo Ferreira. Antes da gravação, as Noites nos Jardins de Espanha foram apresentadas em concerto, em Alcobaça e no Porto.

 

Seguiram-se as sessões de gravação, ao longo de dois dias, nos estúdios do Centro de Alto Rendimento Artístico (CARA), em Matosinhos: “Foram dois dias longos e intensos, pois este repertório é de especial densidade orquestral e cheio de detalhes. A relação entre o piano e a orquestra é também peculiar, exigindo uma interação que vai além do simples acompanhamento do solista”.

 

 

“a maior parte do repertório de Ruy Coelho encontrava-se em manuscritos autógrafos e sem qualquer gravação existente”

 

 

A obra Noites nas Ruas da Mouraria de Ruy Coelho é agora, com esta gravação, resgatada do esquecimento. Depois do primeiro contacto que teve com Artur Pizarro, Bernardo Santos foi até à Biblioteca Nacional de Portugal, onde está depositado o espólio do Ruy Coelho, averiguar sobre a existência de partituras das Noites nas Ruas da Mouraria e materiais que pudessem ser de interesse para a realização deste projeto: “Senti potencial nesta obra e decidi que o projeto seria para avançar”.

 

No entanto, “a maior surpresa foi perceber que Ruy Coelho tinha composto uma vasta quantidade de repertório e que a maior parte deste se encontrava em manuscritos autógrafos e sem qualquer gravação existente”. Infelizmente, constatou que muitos compositores estavam votados ao abandono, com as suas obras presas em arquivos, manuscritos inéditos e partituras por editar.

 

A partir desta redescoberta, o jovem pianista iniciou a sua investigação de doutoramento, na Universidade de Aveiro, sob orientação da professora Helena Marinho. “Além disso, todo o trabalho de edição, tanto de Noites nas Ruas da Mouraria como das obras para piano solo selecionadas, foi apoiado desde o primeiro momento pelo Edward Ayres d’Abreu e pelo MPMP, nomeadamente pelo Luís Salgueiro e pelo Duarte Pereira Martins”, destaca.

 

 

“há uma enorme lacuna na disponibilização de partituras e gravações de música portuguesa”

 

 

Desde pequeno, que Bernardo Santos sente que “há uma enorme lacuna na disponibilização de partituras e gravações de música portuguesa”. Não obstante, os progressos dos últimos anos, “muito graças ao trabalho das nossas editoras,” “ainda existem um sem número de compositores e respetivas obras por explorar”.

 

“No caso do repertório português para piano e orquestra, o caso é ainda mais delicado, pois estas obras requerem condições financeiras e logísticas para a sua realização que nem sempre são alcançáveis e, portanto, torna-se ainda mais difícil saber que estas sequer existem”, revela.

 

 

“é possível redescobrir repertório caído no esquecimento, trabalhá-lo, trazê-lo novamente aos palcos de salas de concerto”

 

 

Iberian Nights tem, assim, a missão de provar que “é possível redescobrir repertório caído no esquecimento, trabalhá-lo, trazê-lo novamente aos palcos de salas de concerto e ainda almejar à realização de uma gravação profissional”.

 

Confessa que “é um trabalho árduo e por vezes penoso, pois implica grande investimento de tempo e muita negociação para convencer que a aposta em repertório desconhecido vale a pena.”

 

 

“que se investigue, trabalhe, estude e se toque a música deste compositor (Ruy Coelho) e que depois se decida sobre o seu valor”

 

 

Considera que “Ruy Coelho é uma personagem polémica do meio cultural português do século XX e isso leva a que a receção à sua obra seja, muitas vezes, antecedida de uma tendência à crítica negativa”. Por isso, tem esperança de que “a obra seja ouvida sem qualquer preconceito”.

 

“Este tem sido o lema de toda a minha investigação sobre a música de Ruy Coelho – que se investigue, trabalhe, estude e se toque a música deste compositor e que depois se decida sobre o seu valor”, defende.  Justifica com o facto de quase não haver gravações discográficas da obra de Ruy Coelho do público geral e especializado pouco saberem sobre a existência das obras publicadas e não publicadas do compositor: “Apesar disso, torce-se o nariz antes sequer de se ouvir a sua música”.

 

 

“As Noites nos Jardins de Espanha é também uma das minhas obras preferidas”

 

 

Em Iberian Nights, não há apenas um reencontro com o repertório português. Há também um tributo pessoal: “As Noites nos Jardins de Espanha é também uma das minhas obras preferidas.  É uma obra que me diz muito, pois é também o concerto que mais ouvi o meu professor Josep Colom tocar”.

 

A preparação com o seu professor, teve um significado simbólico: “a continuação de uma tradição musical e uma sensação de rito de passagem, pois foi o momento em que o Josep me verbalizou sermos colegas”.

 

 

O pianista pretende gravar as restantes três obras concertantes do compositor: dois concertos e uma rapsódia.

 

 

O disco tem tido divulgação diária na Antena 2 e contou com uma entrevista conduzida por Paulo Alves Guerra. A promoção do projeto estende-se ainda às plataformas digitais, com vídeos de making of e a distribuição do álbum em serviços de streaming. Está também previsto um evento oficial de lançamento para o outono de 2025.

 

Mas a jornada de redescoberta do património musical português não se fica por aqui. Bernardo Santos já tem novos planos em curso. Em articulação com a família de Ruy Coelho — que descreve como “grandes aliados nesta aventura” — o pianista pretende gravar as restantes três obras concertantes do compositor: dois concertos e uma rapsódia.

 

“O projeto anda a ser estudado, mas aproveito para deixar o desafio a algum parceiro que tenha interesse em se juntar a nós neste projeto megalómano e apostar na gravação de mais repertório concertante português inédito”, apela.

 

 

“fazer com que estas obras voltem a ver a luz do dia, ou que sejam mesmo estreadas”

 

 

A par da interpretação e da carreira internacional, Bernardo Santos tem desenvolvido um trabalho fundamental na edição crítica de obras de compositores portugueses do século XX, como Ruy Coelho, Frederico de Freitas e Berta Alves de Sousa. Um trabalho que considera urgente: “São dezenas os compositores portugueses do século XX que, por inúmeros fatores, tiveram a sua obra caída no esquecimento e as suas partituras literalmente depositadas em caixotes que pouca gente sabe que existem”.

 

A edição crítica surge, assim, como um gesto de resgate e reconstrução: “é essencial para permitir que pianistas tomem conhecimento da existência de tal repertório e possam investir em fazer com que estas obras voltem a ver a luz do dia, ou que sejam mesmo estreadas”.

 

Apesar das vantagens da edição de partituras sob o seu ponto de vista como intérprete, Bernardo assume-se como pianista, e não como musicólogo: “há várias decisões tomadas que não se cingem às fontes, mas à intuição e conhecimento musical do pianista-intérprete”.

 

 

“Tento sempre ter um momento de conversa com o público quando incluo repertório português”

 

 

É como intérprete que divulga a música portuguesa no estrangeiro, no seus concertos e masterclasses. A reação do público tem sido muito positiva: “Tento sempre ter um momento de conversa com o público quando incluo repertório português, de forma a contextualizar os compositores para um público que, provavelmente, nunca ouviu falar deles, o que é especialmente apelativo para quem está nos concertos”.

 

O seu trabalho de divulgação tem dados frutos como prova o exemplo de uma ma masterclasse na Malásia: “um aluno trouxe para a aula uma obra portuguese da qual sou o editor. Dá todo um sentimento de missão cumprida!”

 

 

“Há uma vasta quantidade de repertório por explorar”

 

 

A missão está longe de terminar. “Há uma vasta quantidade de repertório por explorar. A investigação centrada em música portuguesa está longe de estar terminada na minha vida”, afirma Bernardo, que espera defender a sua tese de doutoramento nos próximos meses.

 

Para 2026, tem já alinhado um novo e ambicioso projeto: a apresentação internacional dos quatro concertos para piano e orquestra de João Domingos Bomtempo, no ano em que se celebram os 250 anos do nascimento do compositor. O projeto, desenvolvido em parceria com o maestro Rui Miguel Marques, prevê concertos em Espanha, Brasil, Bulgária e Eslovénia — países onde a música de Bomtempo permanece praticamente desconhecida. Falta ainda assegurar uma apresentação em Portugal, que o pianista considera “essencial”, e há também planos de gravação.

 

 

 

O Malabarismo Profissional de Bernardo Santos

 

 

A carreira de Bernardo Santos assenta num equilíbrio delicado entre quatro áreas que se cruzam e alimentam mutuamente: interpretação, investigação musicológica, organização de eventos e ensino. Mas encontrar equilíbrio entre todas elas não tem sido tarefa fácil. “Na verdade, a minha carreira foca-se essencialmente na interpretação”, esclarece.

 

Foi precisamente a interpretação que o levou à investigação. Durante o mestrado, deparou-se com a escassez de partituras e gravações de música portuguesa, o que o motivou a colmatar essas lacunas e a integrar esse repertório nas suas apresentações: “Isto trouxe-me uma série de mais-valias, pois descobri várias obras interessantes em que, até agora, sou o único intérprete, e permitiu-me poder ter sempre repertório português para apresentar no estrangeiro, o que é várias vezes valorizado”.

 

Paralelamente, desde 2021, Bernardo dedica-se à organização de eventos, com destaque para os Ciclos de Lua Nova, uma série de concertos mensais na Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro em Águeda.

 

Em 2024, aventurou-se mais longe, organizando um festival de piano e orquestra em Guadalajara, no México — um dos seus maiores desafios até hoje, e que pretende repetir em 2026.

 

No ensino, os convites para dar masterclasses têm-se multiplicado, tanto em Portugal como no estrangeiro: “a maioria das masterclasses decorrem através de convites de universidades em países onde tenho recitais ou são organizados por orquestras com as quais toco como solista”.

 

“A gestão destas quatro vertentes requer um certo malabarismo que, até ver, tem funcionado, mas não escondo ser workaholic, pelo que não recomendo ninguém com juízo em meter-se em tantos projetos”.

 

 

“A grande vantagem de estudar um instrumento, em comparação com outras áreas, é o contacto individual e frequente com um mentor ao longo de meses ou mesmo anos”

 

 

A relação de Bernardo Santos com o piano começou aos seis anos de idade e surgiu quase por acaso: “Tenho um irmão mais velho que tocou piano durante alguns meses, mas que chegou a tocar numa audição. Esta audição foi gravada e, por acaso, vi-a uma vez e quis imitá-lo”.  

 

O fascínio pelo instrumento foi crescendo naturalmente, mas a decisão de seguir a carreira musical só se consolidou aos 17 anos: “depois de estar uma vez em palco e ter-se feito um clique, é que realmente decidi que era o que eu quereria fazer para o resto da vida”.

 

Ao longo do seu percurso, os professores de piano desempenharam um papel decisivo: “Sou especialmente ligado aos meus professores de piano e a eles devo muito na minha formação como músico e como pessoa”. Cinco mestres, cinco influências profundas a quem deve a pessoa que é hoje: Klara Dolynay (Coimbra), Álvaro Teixeira Lopes (Aveiro), Josep Colom (Barcelona), Deniz Gelenbe (Londres) e Dubravka Tomšič (Liubliana).

 

“Tive-os a todos em fases diferentes da minha vida, mas mantenho o contacto com todos, por sentir que fazem todos parte de mim. Inclusive, apesar de não estar a ter aulas atualmente com nenhum, visito-os com alguma regularidade para passar alguma obra nova antes de a apresentar num evento, ou mesmo apenas para estar com eles. São eles que, em momentos de insegurança de carreira, me incentivam a seguir em frente”, sublinha.

 

Para Bernardo, essa relação próxima é um privilégio do ensino da música: “A grande vantagem de estudar um instrumento, em comparação com outras áreas, é o contacto individual e frequente com um mentor ao longo de meses ou mesmo anos. Isso permite adquirir não só conhecimento técnico, mas também valores e experiência de vida valiosos.”

 

 

“No seio dos mais complicados e difíceis contextos, há um amor à música que nos deve fazer ponderar o nosso próprio amor e dedicação ao que fazemos”

 

 

Atuou em mais de vinte países, sobretudo na América Central e do Sul, e Ásia, em locais “com salas de concerto de enorme dimensão e de ótimas condições, com grande afluência do público”.

 

Uma das suas maiores surpresas tem sido o perfil do público: “Curiosamente, um público especialmente jovem, o que me leva sempre a contra-argumentar a ideia de que a música erudita tem os seus dias contados: acho que está mais viva que nunca.”

 

Para além da música, estes encontros com outras culturas e realidades têm lhe trazido as maiores aprendizagens: “que o mundo é realmente enorme e com muitas culturas diferentes; que o talento e a qualidade existe nos locais menos esperados; que raramente estamos satisfeitos com as condições de trabalho que temos, mas há sempre algum local em que se faz o possível e o impossível para se estudar e realizar concertos, em condições aparentemente inacreditáveis”.

 

E, acima de tudo, a constatação de que o amor à música transcende dificuldades e fronteiras: “No seio dos mais complicados e difíceis contextos, há um amor à música que nos deve fazer ponderar o nosso próprio amor e dedicação ao que fazemos”.

 

 

Os desafios de ser solista

 

A carreira de um pianista como Bernardo Santos é construída entre o rigor do estudo, muitos aplausos, mas também com os desafios de ser freelancer – manter a carreira ativa, e solista – solidão.

 

Manter uma agenda internacional exige também um investimento constante em relações profissionais com entidades, festivais e colegas músicos, “de forma a garantir a manutenção e continuação da rede de contactos, essencialmente para a agenda de concertos”.

 

Menos falada é a solidão do intérprete solista: “é um dos maiores contratempos de difícil gestão, e talvez por isso eu tenha especial preferência por eventos de piano e orquestra e tocar com colegas em recitais de música de câmara”.

 

Por outro lado, uma carreira internacional tem-no levado a cruzar-se com culturas e histórias que jamais teria conhecido: “Destaco a possibilidade de conhecer o mundo, tudo o que há de diferente nele e travar contacto com pessoas e culturas que nunca imaginei vir a conhecer.”

 

 

Cinco Concertos, Cinco Momentos Inesquecíveis

 

 

Destaca cinco experiências que o tocaram de forma especial. Em 2020, durante uma interpretação do 4.º Concerto de Beethoven, Bernardo viveu um dos momentos mais emocionantes da sua carreira quando duas senhoras surdas assistiram à atuação com as mãos apoiadas na ponta do piano, sentindo as vibrações: “Lembro-me de olhar em frente, antes do emblemático acorde inicial, e ver a senhora mais velha de sorriso de orelha a orelha a olhar para mim, enquanto agarrava o piano com toda a sua força. Esse acorde inicial ganhou um novo significado para mim desde então”.

 

Em março de 2023, fez a sua estreia com orquestra na Sala São Paulo, principal sala da América do Sul: “Era um sonho meu e significou o culminar de vários anos a tocar no Brasil, inicialmente em salas relativamente pequenas e, degrau a degrau, alcançando a derradeira sala. O evento foi especialmente feliz, pois a sala esgotou em menos de 10 minutos e contei com amigos, colegas, família e até o meu professor Álvaro na plateia”.

 

Em abril de 2024, dividiu o palco com um dos seus ídolos, Artur Pizarro, para interpretar o Concerto para Dois Pianos de Max Bruch: “Foi um dos eventos até hoje em que mais me preparei, pois ia partilhar o palco com um dos meus ídolos, e foi um grande sucesso”.

 

Meses depois, em julho de 2024, no âmbito do Festival de Piano e Orquestra de Guadalajara, no México, tocou o Concerto de Grieg, no Teatro Degollado, sob a direção do seu amigo e antigo aluno Rui Miguel Marques. “Nós tivemos a mesma primeira professora de piano e, há uns valentes anos, a propósito de uma complicação de saúde dela, acabei a dar aulas particulares ao Rui durante uns meses. Estar no palco a ser dirigido por um ex-aluno, ainda que não oficial, que se tornou um ótimo maestro e amigo, foi uma experiência muito especial. E não escondo ter estado francamente mais nervoso que ele para esse evento”, conta.

 

O quinto momento emblemático aconteceu há pouco tempo, em junho de 2025, na República Checa, com a estreia do 2.º Concerto de Rachmaninoff — uma obra que sempre adorou, mas que considerava fisicamente incompatível com a sua estatura. Após uma lesão e anos a adiar o projeto, concretizou finalmente o sonho: “Após meses de preparação e apoio de vários amigos, lá se fez a estreia do concerto, e com ela veio a sensação de que de facto há barreiras que são possíveis de superar”.

 

 

“As oportunidades existem, mas temos de as procurar. Elas não nos batem à porta da sala onde estamos a praticar.”

 

 

Aos jovens pianistas, aconselha a estudarem muito: “Os anos de juventude são essenciais para toda a nossa base pianística e, apesar de nunca ser tarde para trabalhar intensivamente (e eu acho que sou prova disso), quanto mais cedo, melhor”.

 

Porém, o estudo não chega e a carreira não passa apenas pelas salas de estudo: “As oportunidades existem, mas temos de as procurar. Elas não nos batem à porta da sala onde estamos a praticar.”

 

Conhecer pessoas, participar em projetos, tocar música de câmara e integrar redes de contactos são passos essenciais para construir uma carreira: “A carreira realiza-se, principalmente, através de pessoas — claro que é sempre necessário tocar bem, mas não só.”

 

Os jovens músicos não devem ter receio de se apresentar, de contactar agentes, instituições, ou mesmo de criar os seus próprios projetos: “Sejam proativos e não tenham receio de ir à procura de oportunidades, de contactar pessoas e entidades, de fazer pela vossa carreira - uns admitem-no, outros não, mas toda a gente o faz, seja a título individual, seja através de agentes”.

 

Por fim, deixa uma nota de entusiasmo e inspiração: “Aproveitem a vida e o que há de melhor em poder fazer o que se gosta todos os dias: é um privilégio que temos e do qual a maioria das pessoas não se pode gabar”.

 

 

“Sou uma pessoa constantemente à procura de novas ideias de projetos, com vontade de arriscar e almejar sempre um pouco mais alto, de tentar tornar o impossível em possível”

 

 

Além das suas várias facetas profissionais, é presidente da World Piano Teachers Association (WPTA) Portugal através da qual participa em concursos internacionais, masterclasses e congressos, estabelecendo pontes com professores e intérpretes de todo o mundo.

 

Para Bernardo Santos, o futuro é um campo aberto de possibilidades. Pianista, investigador, programador cultural e eterno sonhador, assume-se como alguém que vive em movimento, sempre a criar, a imaginar e a arriscar.

 

“Sou uma pessoa constantemente à procura de novas ideias de projetos, com vontade de arriscar e almejar sempre um pouco mais alto, de tentar tornar o impossível em possível. Algumas vezes os projetos são utópicos, outras vezes dou por mim sem conseguir acreditar como estes se concretizaram”, afirma.

 

“O principal desejo para o futuro? Continuar a ser feliz em me levantar todos os dias para fazer o que mais gosto, manter e ter novos projetos com amigos e colegas que tanto estimo, conseguir ser sempre um pouco melhor que no dia anterior”, acrescenta.

 

 

 

 

 

 
 
 
 

 
 

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