Sandra Bastos
Pedro Moreira destacou-se na edição de 2024 do Prémio Jovens Músicos (PJM), ao conquistar não só o primeiro prémio na categoria de Oboé – nível superior, como também o prestigiado Prémio Maestro Silva Pereira/Jovem Músico do Ano. Com apenas 23 anos, o oboísta natural de Paços de Ferreira reafirma a sua ascensão no panorama internacional ao conquistar o 3.º Prémio no conceituado Concurso de Praga e ao afirmar o seu lugar de oboé solista na Bielefelder Philharmoniker, na Alemanha.
Nesta partilha com a Da Capo, Pedro Moreira reflete sobre os desafios e conquistas do seu percurso, a experiência no PJM, os projetos futuros e a realidade da música clássica em Portugal, com a convicção de que o mais importante é sentir-se bem no caminho que escolheu.
Esta foi quarta participação de Pedro Moreira no PJM. A estreia aconteceu quando frequentava o 8.º ano de escolaridade, no nível médio de Oboé. Mais tarde, participou em duas edições na categoria de Música de Câmara, nível médio, tendo alcançado, com o seu grupo - “In Time Quintet”, o segundo prémio em 2019.
“Pessoalmente, considero o PJM como um dos concursos mais prestigiados em Portugal. Sempre que tive oportunidade, tentei participar, pois só participando é que evoluímos e conhecemos pessoas novas!”, sublinha.
O equilíbrio entre o estudo e as palhetas
A preparação a final do PJM exigiu um equilíbrio entre o estudo e a preparação de palhetas: “Tentei fazer palhetas alguns meses antes da semifinal e da final, para depois me poder concentrar apenas no estudo.”
Para a final, onde interpretou de memória o Concerto de Strauss, começou, três semanas antes, a tocar a peça completa e de memória pelo menos uma vez por dia: “Senti que isso me ajudou muito no dia da verdadeira final”.
“temos de tentar aproveitar ao máximo o que estamos a fazer”
Para o jovem oboísta, as maiores dificuldades de uma competição acontecem nos bastidores: “Acho que os momentos mais difíceis, para mim, são sempre a espera antes e o depois de tocar. Claro que tocar pode ser bastante stressante, mas temos de tentar aproveitar ao máximo o que estamos a fazer”.
A logística da viagem também não ajudou, tendo em conta que só conseguiu chegar poucos dias antes da final e teve apenas um ensaio com a pianista: “Mas, felizmente, correu tudo bem!”.
Por outro lado, os momentos mais emocionantes foram vividos quando foi anunciado como vencedor e na noite do concerto com a Orquestra Gulbenkian: “Houve várias lágrimas e emoções quando me foi atribuído o primeiro prémio. É o reconhecimento do trabalho árduo e de um sonho finalmente realizado. Vai ser um momento guardado na minha memória para sempre.”
Prémio Samuel Bastos: “temos de continuar e honrar o belo trabalho que ele fez”
Na sequência da sua vitória no PJM, Pedro Moreira foi também distinguido com o Prémio Samuel Bastos, uma homenagem à memória de um dos mais influentes oboístas portugueses. Uma distinção que assume um significado especiale um compromisso: “Receber este prémio é um orgulho e uma responsabilidade, pois o Samuel elevou o nível do oboé tão alto que agora temos de continuar e honrar o belo trabalho que ele fez”.
Lembra ainda a importância de Samuel Bastos na história do Oboé em Portugal: “Todos os oboístas portugueses sabem quem foi o Samuel Bastos e a importância que teve no desenvolvimento do nosso instrumento”.
“Felizmente, participei em várias masterclasses com ele. Era uma pessoa excelente e um músico incrível”, recorda.
“continuar a evoluir como oboísta e ser feliz, pois isso é o mais importante”
Meses após ter conquistado o PJM, reflete sobre o impacto da competição na sua trajetória artística: “Sinto que o PJM me preparou mentalmente para enfrentar novos desafios, e creio que essa foi a maior mudança”.
Um desses desafios será já em setembro, com o concerto a solo com a Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), integrado no Festival Prémio Jovens Músicos, na Fundação Calouste Gulbenkian — uma oportunidade que considera “uma grande experiência”.
Com os olhos postos no futuro, revela ainda novos projetos internacionais. Em 2026, tem agendados dois concertos a solo com a Pilsen Philharmonic, na República Checa. Quanto ao resto, mantém o foco na evolução artística e no equilíbrio pessoal: “Creio que é continuar a evoluir como oboísta e ser feliz, pois isso é o mais importante.”
Laureado no prestigiado Concurso de Praga
Ao longo da sua ainda curta carreira, Pedro Moreira destaca a importância dos seus professores de Oboé: Pedro Leal, Hugo Ribeiro, Luís Alves e Christian Wetzel. E, sobretudo, da sua família: “Ainda mais importante é a minha família – pais, irmão e irmã – pois, sem o apoio deles e o constante carinho e força que me dão, seria impossível. Claro que também agradeço aos meus amigos e à minha namorada”.
Entre os momentos mais marcantes, destaca o Prémio Jovens Músicos, tanto a final como o Concerto dos Laureados, assim como o recente (maio de 2025) 3.º Prémio no prestigiado Prague Spring International Music Competition — uma das conquistas mais importantes da sua carreira até agora.
“Também gosto sempre de relembrar as minhas primeiras aulas de oboé”, conclui, com alguma nostalgia: “Foram o início desta carreira.”
“sempre quis ser músico e, acrescento, sempre quis ser oboísta”
Desde criança que sabia qual seria o seu caminho: “desde que me lembro quis ser músico e, acrescento, sempre quis ser oboísta”. Conheceu o Oboé numa noite em que assistia a um concerto da Banda Musical de Paços de Ferreira, sua terra natal: “Ouvi um solo de oboé que me marcou profundamente. Desde então, ficou-me esta ideia.”
Foi nessa mesma banda que deu os primeiros passos no estudo do instrumento, com o professor Pedro Leal. O entusiasmo inicial transformou-se num projeto de vida: “Sempre lutei para fazer disto a minha vida. Nunca tive um plano B ou C — e, felizmente, correu bem!”.
“O mais importante é sentir-me bem e ter orgulho no que faço”
Atualmente, Pedro Moreira ocupa o lugar de Oboé Solo na Bielefelder Philharmoniker, na Alemanha. Um trabalho que considera “incrível” e pelo qual se sente agradecido. Não esconde o sonho de um integrar, um dia, uma das prestigiadas orquestras de rádio alemãs, também como solo oboé.
Gostaria também de continuar o seu trabalho como solista e participar em mais projetos de música de câmara. A prioridade será a sua realização: “O mais importante é sentir-me bem onde estiver e sentir orgulho no que faço.”
“Em Portugal, temos grandes professores e boas escolas”
Estudou com Christian Wetzel, na Hochschule für Musik und Tanz Köln (Universidade de Música e Dança de Colónia), na Alemanha, onde vive e trabalha na Orquestra Filarmónica de Bielefeld. A sua opção de sair de Portugal prendeu-se com os seus objetivos. “Estar no estrangeiro proporciona mais oportunidades aos músicos do que em Portugal, infelizmente. Especialmente em termos de bolsas de estudo, possibilidade de fazer academias em várias orquestras e trabalho – há muito mais orquestras na Alemanha, por exemplo, do que em Portugal”, destaca.
No entanto, a decisão de sair do país depende das metas de cada um e não é necessário migrar para evoluir: “Em Portugal, temos grandes professores e boas escolas”. O mais importante, defende, “é o bem-estar de cada um e o quão preparado está. Depende dos objetivos de cada pessoa”.
“Damos tudo por esta vida e depois não somos reconhecidos”
Apesar do talento reconhecido internacionalmente dos músicos portugueses, o panorama da música erudita em Portugal continua a ser marcado por fragilidades e falta de investimento. Para Pedro Moreira, é inevitável fazer comparações. “Portugal tem excelentes músicos, estejam eles a estudar ou a trabalhar cá ou lá fora”, afirma. No caso específico do oboé, destaca o bom nome da escola portuguesa no estrangeiro: “Muitas pessoas na Alemanha comentam comigo que os oboístas portugueses são sempre talentosos.”
Ainda assim, aponta críticas à falta de apoio, sobretudo a nível institucional. “O problema em Portugal é a falta de apoio às orquestras e aos estudantes”, lamenta. Os instrumentos são extremamente caros e muitos jovens músicos não conseguem sequer adquirir um novo oboé, quanto mais suportar os custos de estudar fora sem qualquer tipo de apoio: “Como estudante, é triste que não existam mais bolsas que apoiem quem não tem possibilidades.”
Reconhece a qualidade das orquestras portugueses, como a Gulbenkian e a Casa da Música, “mas para a quantidade de músicos que há, não há trabalho suficiente”. E “faltam apoios, especialmente para orquestras que enfrentam dificuldades”.
“Como português e músico, isso dói. Damos tudo por esta vida e depois não somos reconhecidos – isso é o pior que nos podem fazer.” E deixa um apelo: “Temos de começar a perceber que ser músico não é um hobby, mas sim um trabalho que exige muitas horas de estudo e dedicação.”
“temos a responsabilidade de continuar a elevar o nível dos músicos portugueses, como as gerações anteriores fizeram”
Admite que integrar a nova geração de músicos portugueses é motivo de orgulho: “Tenho muito orgulho em fazer parte desta geração. Vários colegas com quem estudei estão agora em várias orquestras, e isso deixa-me muito feliz, pois merecem. De certa forma, é o reconhecimento do nosso trabalho contínuo e árduo”.
Contudo, o reconhecimento traz também responsabilidade: “Sinto que temos a responsabilidade de continuar a elevar o nível dos músicos portugueses, como as gerações anteriores fizeram.” E não esquece quem abriu caminho: “Se hoje temos algumas das oportunidades que temos, é graças aos nossos colegas mais velhos, que mostraram ao mundo que nós somos bons.”
Pedro Moreira
Nasceu em 2001, em Paços de Ferreira. Iniciou os seus estudos em Oboé aos 7 anos, na Banda Musical dos Paços de Ferreira com o professor Pedro Leal. Ingressou no Centro de Cultura Musical (CCM) em 2011, na classe de Oboé do professor Pedro Leal. Em 2013, ingressou na ARTAVE - Escola Profissional de Artes Plásticas do Vale do Ave na classe do professor Hugo Ribeiro.
Frequentou Master Classes com os professores Nelson Alves, Samuel Bastos, Pedro Ribeiro, Aldo Salvetti, Jean Michel Garetti, Thomas Indermühle, Ricardo Lopes, David Walter, Viola Wilmsen, Jacques Tys, Hélène Devilleneuve,Diethelm Jonas, Ingo Goritzki e Jean-Louis Capezzali.
Trabalhou com os maestros Jaroslav Mikus, Paulo Silva, Hugo Ribeiro, David Silva, Rafa Albors, Rui Leal, José Eduardo Gomes, Paulo Martins, Pedro Askim, Roberto Baltar Gardón, Maxime Tortelier, Rui Pinheiro, Carlos Garcés, Roberto Pérez,Dinis Sousa, Diogo Costa,Baldur Brönnimann, José Rafael Pascual Vilaplana,Douglas Bostock,Dinis Sousa, Alexander Kalajdzic,Lorenzo Viotti,Krzysztof Urbański und Giancarlo Guerrero.
No Concurso CCM, em 2012 ganhou o 1º lugar - Instrumento e Canto no nível 2, categoria 1 e 1.º lugar em 2013 - Instrumento e Canto, nível 2, categoria 2. Foi o 1.º classificado na classe B do Concurso Nacional de Sopros do Alto Minho, no ano de 2012 e, em 2018, no mesmo concurso, obteve o 2.º lugar na categoria D. Em 2019, obteve o 1º lugar na categoria D, na mesma competição.
Em 2012 e 2013, obteve o 3.º lugar na categoria Infantil do Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro "Terras de La Salette", tendo em 2014 e 2015, neste mesmo concurso, obtido o 1.º lugar na categoria de Infantil e o 2.º lugar na categoria de Juvenil, respetivamente. Em 2017, obteve o 1.º lugar na categoria Juvenil nesse concurso, e no mesmo ano obteve o 2.º prémio na categoria B do concurso “VII Concorso Internazionale per Oboe Giuseppe Ferlendis” em Itália. Em 2019, obteve o 2º prémio com o “In Time Quintet” na categoria Música de Câmara no concurso “Prémios Jovens Músicos”.
Em 2017, muda para a classe do professor Luís Alves. Em 2019, conclui a ARTAVE- Escola Profissional Artística Vale do Ave, tendo obtido a nota máxima no seu recital final.
Em 2019, foi admitido na classe do professor Christian Wetzel, na Hochschule für Musik und Tanz Köln.
Em 2021, obteve o 1.º lugar no “Prémio Ilda Moura”, e no mesmo concurso obteve a distinção de melhor candidato do Escalão E. Obteve o 2.º lugar na categoria A do concurso “1.º Festival Online de Oboé”.
Teve a oportunidade de tocar com várias orquestras, entre elas Orquestra XXI, Orquestra Gulbenkian, Schleswig-Holstein Festival Orchestra, Bielefelder Philarmoniker,Nordwestdeutsche Philharmonie e WDR Sinfonieorchester.
Foi bolseiro da bolsa “Horst & Gretl Will-Stiftung” e atualmente é bolseiro da bolsa “PE-Förderungen für Studierende der Musik e.V.”
Em 2023, ganhou a posição de Oboé Solo em Bielefeld, na Bielefelder Philarmoniker, Alemanha. Em 2025, foi laureado com o 3.º Prémio no prestigiado Prague Spring International Music Competition.
Em 2024, obteve o 1.º prémio na categoria Superior de Oboé do concurso “Prémio Jovens Músicos” e o prémio Maestro Silva Pereira-Jovem Músico do Ano de 2024.