Re:Opera – Belo é o Destino Desconhecido de Pedro Lima

“uma provocação ainda mais vertiginosa sobre o fenómeno da criatividade”

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Sandra Bastos

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A Sinfonietta de Braga estreia hoje, dia 9 de maio, às 21h30, no Theatro Circo, Re:Opera – Belo é o Destino Desconhecido, da autoria do compositor Pedro Lima.

 

Re:Opera propõe uma conversa em duas linguagens, criando pontes entre universos musicais - a ópera enquanto género erudito e, nesta primeira edição, o fado enquanto estilo musical.

 

 

“uma provocação ainda mais vertiginosa sobre o fenómeno da criatividade”

 

Pedro Lima confessa que lhe agrada a “possibilidade de fazer pontes entre vários cenários musicais”, como o fado, neste caso: “Sendo música sobre a qual não era grande conhecedor, foi importante investigar a história e as várias raízes que apontam para um nascimento impreciso no tempo e no local. Esta ópera também fala sobre isso”.

 

“A composição, no meu entendimento, não parte nunca de um cenário totalmente “livre”. Há um leque de condicionantes convocadas pelos diferentes projetos em que me insiro: textos, durações, instrumentações e contextos onde as obras são apresentadas. Nesse sentido, esta temática foi uma boa oportunidade para aplicar regras e criar amarras nas decisões que pude tomar para que dessa forma houvesse uma provocação ainda mais vertiginosa sobre o fenómeno da criatividade”, explica.

 

No âmbito dos cruzamentos musicais, o compositor já teve a oportunidade de se cruzar com a “dance music” e com o “fado”. No futuro, gostava de poder colaborar com músicos do “hip-hop”.

 

 

“A última torção, querei-la delicada ou violenta?”

 

O compositor afirma que gostaria que o público levasse consigo “sementes para plantar noutras pessoas”, depois de assistir ao espetáculo: “Que toda a gente se possa sentir parte e que possa levar consigo um interesse crescente para regressar às óperas e à música contemporânea (e aos fados, claro!)”, quebrando “a grande barreira que existe entre a criação contemporânea e o público”.

 

Destaca a frase da obra “A última torção, querei-la delicada ou violenta?”, como especialmente marcante.

 

 

“um cruzamento de espécies que ambiciona produzir novos resultados sonoros”

 

O convite para compor Re:Opera – Belo é o Destino Desconhecido partiu da Sinfonietta de Braga, que “teve a belíssima ideia de fundir a ópera com outro tipo de géneros musicais”. Pedro Lima explica: “Re:Opera é o conceito de encaminhar a “ópera” por percursos divergentes gerando um cruzamento de espécies que ambiciona produzir novos resultados sonoros”.

 

Esta é a quinta ópera de Pedro Lima, apesar de ainda ser jovem (30 anos): “Tem sido um privilégio recorrer a este género musical para expressar ideias, manifestar tanta coisa… Nos tempos que correm, a ópera é de uma pertinência gigante servindo de plataforma para que os artistas se possam expressar numa amplitude exponenciada.”

 

 O processo de produção tem sido “um privilégio”, já que tem tido a felicidade de trabalhar não só com excelentes músicos e artistas, mas também com boas pessoas. “O verdadeiro “jackpot” é que neste projeto fizemo-nos valer de pessoas com ambas as valências e isso é extraordinário no resultado artístico e humano que conseguimos obter ao longo deste projeto”, sublinha.

 

 

“os amigos da Sinfonietta de Braga têm cumprido a missão com particular distinção”

 

Natural de Braga, não é a primeira vez que Pedro Lima trabalha com a Sinfonietta de Braga: “Já colaboramos noutro tipo de registo quando me convidaram para arranjar música de outros compositores para a sua formação base”. Mas é a primeira vez que faz uma criação original: “é uma estreia e, honestamente, um grande prazer”.

 

“A Sinfonietta espelha o progresso cultural que a zona Norte tem cumprido no decorrer da última década. Um projeto com músicos muito dotados que vivem absolutamente comprometidos com o território onde habitam. Penso que não haverá obra mais altruísta e os amigos da Sinfonietta de Braga têm cumprido a missão com particular distinção: na manutenção de tanto repertório clássico, na fusão de géneros com projetos onde se cruzam com o fado, o jazz ou a música de corpo mais sinfónico, na dimensão educativa e ainda na fomentação criativa para que novos projetos e novos criadores possam ter o devido palco. Todos lhes devemos um agradecimento especial por tanto trabalho na selva cultural em que existimos: não é fácil, mas vale a pena”, destaca.

 

 

“o trabalho de comunicar e o exercício de nos relacionarmos com o público dentro e fora do palco”

 

Pedro Lima foi recentemente distinguido com o Prémio Play de Melhor Álbum de Música Clássica/Erudita, um reconhecimento que não interfere na sua forma de criação, mas que criou “uma expectativa grande” por parte de quem segue o seu trabalho, com novas pessoas a segui-lo, depois do prémio.  Sento, com isso, o dever da “mediação”: “É nesse conceito que reside a chave para a sobrevivência da música contemporânea e erudita. O esforço que coletivamente devemos fazer para nos situarmos entre as pessoas do mundo atual, o trabalho de comunicar e o exercício de nos relacionarmos com o público dentro e fora do palco. O prémio, para além do natural mediatismo trouxe essa missão e eu estou feliz e com ideias para a poder cumprir”.

 

O trabalho continua e já no próximo dia 1 de junho, apresenta uma nova estreia na Casa da Música com o Remix Ensemble: “You Should (Should!) be Dancing!” - “um exercício ambicioso que cruza a música disco com a música contemporânea e que parte de um texto magnífico escrito por Gareth Mattey posteriormente gravado pela suprema atriz Beatriz Batarda”.

 

 

“Latente”, o podcast de Pedro Lima

 

Tem também um novo projeto, fora da composição musical, que é um novo podcast, da sua autoria, com o nome “Latente”. A estreia está marcada para breve e vai trazer “conversas light com personalidades de outras áreas laborais (escritores, jogadores de futebol, chefs, psiquiatras, mecânicos) utilizando a música e a composição como ferramenta de intermediação para perceber se a música está, ou não, latente noutros ofícios da sociedade civil”.

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