Da Capo
“todos aqueles que se apresentam em concursos têm de ser muito corajosos e humildes”
Samuel Bastos foi laureado com o 2º Prémio (The Neil Black Prize) na terceira edição do "Barbirolli Internacional Oboe Competition", na pequena Ilha Britânica, Isle of Man. O primeiro prémio foi atribuído a Hannah Morgan (Inglaterra) e o terceiro a Nermis Mieses (Porto Rico). O concurso/festival Barbirolli, que é conhecido como uma das competições de prestígio no mundo, reuniu mais de 20 jovens oboístas vindos de diferentes países, em competição de 5 a 12 de Abril 2014.
A avaliar os concorrentes estavam oboístas de grande experiência internacional como Maurice Bourgue, Neil Black, Han de Vries e George Caird. Este concurso e festival conta também com uma Comissão de Honra com nomes como Daniel Barenboim e Sir Simon Rattle.
“Não é fácil expormos o nosso trabalho e personalidade a um júri”
“Este prémio é simplesmente o reconhecimento do meu trabalho apresentado neste concurso. Devo salientar que todos aqueles que se apresentam em concursos têm de ser muito corajosos e humildes. Não é fácil expormos o nosso trabalho e personalidade a um júri ou comissão que nos vai julgar de diferentes formas e feitios por isso quando nos apresentamos num concurso muitas coisas podem acontecer, não é nada fácil, quem se apresenta tem de estar preparado para tudo.” diz Samuel Bastos.
O objectivo é atingir a final: “se conseguirmos um prémio é a cereja em cima do bolo. Já pensaram nos outros candidatos que nem uma fase passam? Claro que o objectivo é chegar à próxima fase como também aqueles que estão na semi-final é alcançar a final. O facto de estar numa final de um concurso internacional e ganhar um prémio é uma grande experiência. É importante viver estas experiências para mais tarde ajudarmos as futuras gerações a preparar concursos / audições de orquestra e oportunidades de trabalho ”.
“tudo o que é passado simplesmente pertence a uma história”
O oboísta conta no seu curriculum vários prémios: 1º Prémio no "IV Concorso Internazionale per Oboe Giuseppe Ferlendis (2010); 3º Prémio no "VI Concorso Internazionale per Oboe Giuseppe Tomassini" (2013); 1º Prémio no Concurso Internacional para Giovani Interpreti ´´Cittá di Chieri`` (2005); Yamaha Music Foundation of Europe (2006), ´´Prémio Jovens Músicos`` (RDP-RTP 2007), Prémio Maestro Silva Pereira; 2º Prémio no "Concours National d´Execution Musicale Riddes” (2008), o concurso para a “Akademie Karajan der Berliner Phlilharmoniker” (2012) entre outros.
No entanto, confessa que o melhor concurso que ganhou foi o lugar Oboé de Solista na Opernhaus Zürich, onde trabalha actualmente. “Este tipo de prémios são títulos que consegui durante poucos dias e terminaram, significa que pertencem ao passado e tudo o que é passado simplesmente pertence a uma história. Para mim é mais importante ter a oportunidade de disfrutar todos os dias de uma nova história ao lado de excelentes músicos e colegas de trabalho”, explica.
“Se não tocarmos e conhecermos a música do nosso tempo, viveremos na ignorância durante décadas e gerações.”
Recentemente, ainda em Abril, Samuel Bastos estreou uma obra para oboé e electrónica "Aulos" do compositor colombiano Carlos Hidalgo no festival de músca moderna “Archipel” em Genebra, na Suíça. Uma estreia de acordo com os valores que defende em relação à música contemporânea: “É muito importante tocarmos a música que os compositores do nosso tempo escrevem, especialmente toda a música da segunda metade do século XX e XXI. Como podemos não conhecer a música do nosso tempo? Não faz nenhum sentido”.
E exemplifica: “Seria possível um cravista no tempo de Bach, Couperin não mostrar interesse pela sua técnica? Um pianista na época de Beethoven não querer tocar uma das suas sonatas? O mesmo se passa nos dias de hoje. Devemos aprender as novas técnicas de composição e do nosso instrumento. Compositores como Berio, Stockhausen, Glass, Holliger, Silvestrini, Varèse, Maderna, Ligeti, Messiaen, Boulez entre outros, temos a obrigação de conhecer e saber interpretar”.
“Se não tocarmos e conhecermos a música do nosso tempo, viveremos na ignorância durante décadas e gerações. O que diremos aos nossos filhos, alunos, amantes da música em geral às gerações futuras sobre a música que se praticava no nosso tempo?”, questiona.
“em cada universidade deveria existir um ensemble de música moderna”
Aconselha, assim, que sejam os professores a introduzir nos seus repertórios música contemporânea: “em cada universidade deveria existir um ensemble de música moderna ou uma disciplina que abordasse esse tema, em que houvesse um contacto permanente com os compositores de hoje”.
Como intérprete procura “tocar sempre uma obra moderna nos seus recitais”, com o objectivo de “passar a mensagem às gerações futuras, independente se as obras têm ou não qualidade, o tempo determinará a sua história”.
O mesmo se aplica à música portuguesa: “se não conhecermos os nossos compositores e não os tocarmos que informação podemos levar às gerações futuras? É o momento de os conhecer e saber de perto como escrevem e quais as suas técnicas. Se não formos nós a fazer-lo estamos a condenar as gerações futuras e a própria História da Música Moderna”.