Susana Gaspar

“um músico tem de ser do mundo, a música não tem bandeira”

Sandra Bastos

Em Junho deste ano, foi escolhida para integrar um lote de 20 concorrentes representantes de diferentes países entre 400 candidatos iniciais ao concurso BBC Cardiff Singer of the World 2013. A competição entre alguns dos mais promissores profissionais do canto lírico em início de carreira é considerada uma das mais importantes e uma rampa de lançamento para carreiras com sucesso. Susana Gaspar não passou à final mas mostrou que tem talento de sobra para desenvolver uma carreira internacional.

 

“um músico tem de ser do mundo, a música não tem bandeira”

 

E a música é a profissão certa para quem não tem intenção de se fixar em nenhuma região ou país: “canto onde as pessoas quiserem que eu cante. Não deixo de ser portuguesa mas um músico tem de ser do mundo, a música não tem bandeira”.

A viver em Londres, onde estudou na Royal Opera House, a soprano veio a Portugal em Setembro para cantar a solo com a Orquestra XXI, onde interpretou Rückert-Lieder de Gustav Mahler.

“Sinto-me orgulhosa por sermos todos portugueses e por esta orquestra ser de grande qualidade, conseguida em apenas cinco ensaios – já ouvi muitas orquestras em Londres e esta não fica nada atrás, pelo contrário”, sublinha.

Foi uma oportunidade para Susana Gaspar conhecer “excelentes músicos”, que não sabia que existiam: “já não via alguns destes músicos há mais de 10 anos, não sabia do paradeiro deles; outros estão em Londres e eu nem sequer conhecia… estou por dentro do meio mas não sabia de muitas conquistas dos músicos portugueses”.

É também a oportunidade dos amigos e familiares ouvirem-na em concerto, tal como os colegas que, estando quase sempre fora, poucas vezes têm a possibilidade de tocar nos palcos nacionais, para o público português.

 

"continuando a trabalhar um dia virá a nossa oportunidade"

 

“Todos nós somos diferentes e temos percursos diferentes. Para algumas pessoas o percurso é muito mais rápido do que para outras, mas para um cantor a profissão requer muita resistência, não só física mas também mental”, diz.

Mais importante é a força psicológica: “muitas vezes as coisas não acontecem da maneira que nós queremos, ou seja, não acontecem tão depressa como gostaríamos, por isso temos de ter muita força de vontade e não nos deixarmos ir abaixo. Temos de acreditar que, continuando a trabalhar, um dia virá a nossa oportunidade. Há espaço para toda a gente”.

O espaço de Susana tem sido na Royal Opera House em Londres, onde está em contacto diário com “os melhores cantores, maestros, músicos e encenadores do mundo. A Royal Opera House tem uma equipa fantástica, toda a equipa trabalha para o mesmo, para os artistas darem e fazerem o seu melhor”.

 

Susana Gaspar

Susana Gaspar nasceu Lisboa em 1981. Estudou na Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa, nas classes de António Wagner Diniz e Ana Paula Russo. Como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian formou-se na Guildhall School of Music and Drama (GSMD), em Londres, onde estudou com Susan Waters, a sua actual professora. Aperfeiçoou-se no National Opera Studio (Londres) com bolsa da Royal Opera House (ROH).

Em Setembro de 2011 entrou para o programa Jette Parker Young Artists (JPYA) na Royal Opera House em Londres, onde se estreou com o papel de Barbarina em Le Nozze di Figaro, cantando depois Contessa Ceprano (Rigoletto). Cantou ainda Les Nuits d’été (Berlioz) e Aurore em Le Portrait de Manon, numa encenação para o JPYA. Na última temporada apresentou-se na ROH nos papéis: Giannetta (L’Elisir d’Amore), 1st Innocent (The Minotaur), Papagena (Die Zauberflöte), Voce dal Cielo (Don Carlo).

Até à data, ganhou prémios como Basil Turner Prize, 1º prémio, Melhor interpretação Lieder e Canção Portuguesa no Concurso de Canto da Fundação Rotária Portuguesa (2010), finalista no Richard Tauber Prize (2010) e na Gold Medal da GSMD (2009). Nos últimos anos apresentou-se em recital/concerto ems alas como a Crush Room, Barbican Centre, St.Martin in the Fields, Zürich Grossmünster (Suiça), Catedral de Rouen (França), Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural de Belém, Festival ao Largo e trabalhou enquanto solista com maestros como Sir Antonio Pappano, Bruno Campanella e Sir John Eliot Gardiner.

Representou Portugal no BBC Cardiff Singer of the World 2013.

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