Sandra Bastos
“Ter a oportunidade de tocar naquela que é a melhor orquestra do mundo, e trabalhar directamente com músicos de tão elevada qualidade é algo único e que muito pouca gente tem oportunidade”, é assim que o jovem trompista, descreve o significado do lugar que conquistou na Academia da Orquestra Filarmónica de Berlim.
Ricardo Silva foi o terceiro português a ser admitido na Orchester-Akademie der Berliner Philharmoniker, depois de Filipe Alves (trombone) e Samuel Bastos (oboé), no espaço de apenas um ano. “Ultimamente já é bastante frequente dar de caras com notícias de músicos portugueses a conquistarem prémios e a destacarem-se significativamente a nível internacional”, reconhece o jovem trompista, que realça a evolução musical de Portugal nos últimos anos: “A tendência é para melhorar cada vez mais. Somos um país que andou sempre um bocado atrasado a nível cultural em relação aos restantes. No entanto, hoje já temos condições para competir com os melhores. E com o enorme talento que possuímos, os bons resultados simplesmente acontecem”.
“É um desperdício terminar a vida a dar aulas em academias por falta de orquestras onde tocar”
Porém o talento não chega: “eu diria que a força de vontade é o mais importante. Quando realmente se quer uma coisa, trabalha-se de maneira diferente, com mais qualidade e energia. Acho que os portugueses finalmente estão com esta motivação extra para lutarem por uma carreira de mais sucesso. E com uns a servirem de “exemplo para os outros, esta motivação só vai aumentar e trazer mais resultados”.
Assim, apela “à coragem dos trompistas portugueses para se lançarem e darem a conhecer o seu talento pelo mundo fora. Estão-se a formar trompistas de elevada qualidade em Portugal e é um desperdício terminarem a sua vida a dar aulas em academias por falta de orquestras onde tocar”.
Aluno de Marie Luise Neunecker
Ricardo frequenta actualmente o Masterdegree na Hochschule für Musik “Hanns Eisler” em Berlim, na classe de Marie Luise Neunecker. A ideia de estudar fora surgiu durante o segundo ano de licenciatura na ESMAE: “nessa altura deparei-me com colegas meus que se encontravam fora de Portugal a estudar e a trabalhar e estavam a ter um enorme sucesso, o que me deu uma enorme motivação para tentar também. Para além disso, tinha e tenho como grande objectivo tocar numa orquestra profissional, mas temos poucas orquestras e uma audição surge a cada dez anos. É muito tempo para ficar à espera. Escolhi a Alemanha, pois tem um nível cultural muito alto, o custo de vida era acessível às minhas capacidades e porque é o país com o mercado de orquestras mais activo”.
A cultura é uma prioridade na Alemanha
As diferenças entre os dois países são enormes, nomeadamente a tradição musical: “As nossas entidades governamentais ainda vêm a cultura como um bem dispensável. A Alemanha tem uma cultura musical com centenas de anos. Cada cidade tem uma casa de ópera com centenas de anos de existência e facilmente encontramos concertos completamente lotados todas as semanas. A cultura está num patamar bastante elevado no que diz respeito às prioridades do governo”.
Todavia, “em Portugal temos igualmente muito bom nível de professores e qualidade de ensino. No entanto, já as possibilidades e oportunidades que cada escola oferece já são diferentes. O governo alemão tem um investimento na educação muito superior ao de Portugal, tornando a qualidade de ensino muito melhor. As propinas são muito mais baratas e para além disso os projectos escolares e os próprios apoios aos alunos são muito melhores, tornando as escolas bastante atractivas para alunos estrangeiros”.
Ricardo Silva não esquece, assim, os professores que o ajudaram e apoiaram, desde Eddy Tauber até Bohdan Sebestik e Abel Pereira. “Todos foram de extrema importância no meu percurso e sempre me deram a motivação necessária para trabalhar mais e mais. Serão sempre a minha referência e sem eles, de certeza que não estaria onde estou”, sublinha.
1º Trompa na Staatsoper de Hannover
Ricardo Silva, nasceu a Janeiro de 1990, em Estarreja. Iniciou o seu estudo de trompa na Banda Visconde Salreu e posteriormente no Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian com Eddy Tauber. Em 2008, ingressou na Escola Superior de Música das Artes do Espectáculo do Porto, na classe de Bohdan Sebestik e Abel Pereira.
Participou em diversas masterclasses e cursos em Portugal e no estrangeiro. Foi premiado com o 1º Prémio no Concurso Nacional “Terras de La Salette”(2008) e com o 2º Prémio na 25º Edição do Prémio Jovens Músicos, nível superior (2011). Em 2010 foi semifinalista do prestigiado concurso ARD Music Competition em Munich.
Na temporada 2011/12 desempenhou as funções de 1º trompa na Orquestra Metropolitana de Lisboa. Como artista convidado, colaborou com a Orquestra Sinfónica do Porto – Casa da Música, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra da Madeira, Orquestra Filarmonia das Beiras e Orquestra do Norte. Integrou também a Academia de Verão da Schleswig Holstein Music Festival.
Actualmente, desempenha as funções de 1º Trompa na Staatsoper de Hannover. A partir de Setembro será o novo academista da Filarmónica de Berlim (Karajan Akademie). É bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.