João Barradas apresenta “Unfolding” com música de Luís Tinoco

“O timbre na música de Tinoco é crucial, mas a sua linguagem musical pode aumentar a cor do programa para o meu instrumento”

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Sandra Bastos

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  • Luís Tinoco e João Barradas
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Reconhecido como um dos músicos mais inovadores e revolucionários do acordeão na cena europeia, João Barradas transita com naturalidade entre a música clássica e a improvisação. O seu novo álbum, “Unfolding”, nasceu da interpretação do Concerto para Acordeão, encomendado a Luís Tinoco, um dos mais proeminentes compositores portugueses do século XXI. A parceria entre ambos resultou numa exploração criativa das obras de Tinoco, revisitadas através das possibilidades expressivas do acordeão.

A música de “Unfolding” será apresentada já no próximo mês de setembro no Festival de Lausitz, na Alemanha.

 

Este novo CD surge no âmbito da temporada de João Barradas enquanto artista em Residência na Casa da Música. No ano anterior, a Casa da Música tinha encomendado, juntamente com o Centro Cultural de Belém, o Concerto para Acordeão e Orquestra ao Luís Tinoco. A sua performance no Porto fazia parte dos vários programas da sua residência.

 

Assim, “da gravação dessa performance à edição e escolha do restante programa para criar um CD dedicado à música do Luís, foi um pequeníssimo salto”, explica o acordeonista.

 

 

“Ends Meet”, “Mind The Gap” e “Dreaming of the Unseen”

Em 2022 João Barradas tinha trabalhado numa transcrição da peça “Ends Meet” (originalmente escrita para Marimba e Orquestra de Cordas, dedicada ao Pedro Carneiro) de Luís Tinoco. Essa transcrição foi o primeiro “laboratório“ para a escrita do concerto para acordeão.

 

Durante esse processo, Luís Tinoco foi entregando vários excertos de peças suas, incluindo “Mind The Gap”, a João Barradas: “Peça virtuosa, escrita também ela para Marimba originalmente, com dificuldades técnicas específicas desse instrumento, mas que curiosamente levantavam, em sítios diferentes, dificuldades técnicas também elas substanciais no meu instrumento. Quis logo colocar esta peça no meu programa a solo.”

 

Um concerto para acordeão, uma peça para instrumento solo, uma peça para quarteto de cordas e acordeão e, por fim, a última peça, “Dreaming of the Unseen” finalizaram o programa para “Unfolding”.

 

 

“O timbre na música de Tinoco é crucial, mas a sua linguagem musical pode aumentar a cor do programa para o meu instrumento”

Para João Barradas, a mensagem deste CD é a música portuguesa, com uma homenagem a Luís Tinoco, “um mentor e uma das personalidades basilares da música escrita em Portugal”, com quem mantém uma relação profissional e pessoal há mais de dez anos, partilhando “muitas afinidades estéticas”. Assim, fez todo o sentido “dedicar-lhe” um álbum inteiro.

 

“O timbre na música de Tinoco é crucial, mas a sua linguagem musical (refiro-me à nota enquanto nota num pentagrama, à escolha dos ritmos, a estética do texto, etc.) pode aumentar a cor do programa para o meu instrumento. Certamente que me enriquece como músico, poder descobrir tatilmente a sua música e, humildemente, fico feliz com o resultado final”, sublinha.

 

 

A gravação e o desafio de “Mind The Gap”

O disco foi gravado entre 2023 e 2024 na Casa da Música no Porto, no Estúdio PontoZurca em Almada do Sérgio Milhano, no Convento dos Capuchos e no N Studio Lisbon de Hugo Romano Guimarães.

 

“Mind The Gap” foi a peça mais difícil, “até porque todo o CD é gravado em “Live Take”, isto é, os vídeos demonstram exatamente a performance da peça sem edições ou “ajudas” externas”, conta. A preparação foi demorada e implicou um intenso trabalho de equipa: “Foi um processo conjunto, meu e do Luís, para que conseguíssemos “resolver” algumas das dificuldades que a peça nos apresenta e que fosse possível gravar em vídeo, demonstrando uma performance real da ideia do compositor.”

 

 

Novos discos com concertos para acordeão até 2027

“Unfolding” é o primeiro dos álbuns que sairão da Residência de João Barradas na Casa da Música: “um concerto original para o meu instrumento e orquestra sinfónica é sempre um acontecimento importante”.

 

Destaca as excelentes condições de trabalho: “ficamos muito agradecidos por esse privilégio, desde a captação ao próprio tratamento do álbum”. E garante: “até 2027 sairão mais álbuns meus com diferentes orquestras e concertos para acordeão e não podia estar mais feliz por esse processo começar com o Luís Tinoco, a Joana Carneiro e a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música.”

 

 

Apoio e agradecimentos

O acordeonista realça a “simpatia e ajuda do Luís”, o “convite do António Jorge Pacheco e Rui Pereira para ser o Artista em Residência na Casa da Música”, o “trabalho incansável dos colegas da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música”, a “seriedade da Maestrina Joana Carneiro”, as “captações do Sérgio Milhano e do Hugo Romano Guimarães”, a “obra presente na capa do álbum da autoria do Daniel Nave”, o “Design do Travassos e a ajuda e interesse da Next/Artway, na pessoa da Vanessa Pires que prontamente começou a trabalhar na preparação deste projeto”: “Estou sinceramente muito agradecido a todos."

 

 

 

Fotos: Alfredo Matos

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