Pedro Ribeiro Rodrigues

“Há compositores portugueses que merecem um lugar na História da Música”

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Sandra Bastos

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Foi numa noite de tédio decidiu experimentar fazer a transcrição de duas sonatas, que mais tarde incluiu no programa concerto de Pós-Graduação. O professor Darko Petrinjak ficou maravilhado com a nova descoberta e ele mesmo transcreveu e tocou uma das sonatas para guitarra e violoncelo e começou a encorajá-lo a fazer mais transcrições e a gravá-las.

Quando Pedro Ribeiro Rodrigues viu a reacção positiva de diversos públicos a recitais inteiros só com estas obras, convenceu-se de que tinha de gravar este álbum.

O CD está a venda desde Dezembro de 2012, foi gravado pela Numérica e teve o patrocínio do Inatel, o CAORG, as Grutas de Mira de Aire e o Instituto Camões.

 

“As sonatas são fascinantes: Cada andamento tem pelo menos um momento inesperado ou exótico, as melodias são de uma beleza, simplicidade e subtilidade incrível e penetram na cabeça mais facilmente que as melodias da MTV. Esta simplicidade é muito difícil de atingir, principalmente sabendo que Seixas era um músico treinado para improvisar e compor extravagantemente. Acredito que o processo de composição representava para ele uma espécie de filtro que deixava passar para a pauta só as ideias necessárias e inevitáveis”. É assim que o guitarrista Pedro Ribeiro Rodrigues define as 9 Sonatas de Carlos Seixas, que gravou em 2012 para a Numérica.

 

A gravação decorreu numa pequena igreja barroca para ter uma acústica natural. O objectivo foi “criar uma atmosfera íntima para o ouvinte ter a sensação de estar perto do instrumento ao contrário do habitual nas gravações de guitarra, em que o instrumento se ouve ao longe e o eco muitas vezes não possibilita a nitidez e articulação das notas”. O professor Darko Petrinjak, já com 30 anos de experiência em gravações, acompanhou todo o processo. E há segredos que Pedro não esquece: “para gravar é preciso aprender a escutar melhor que o microfone, ter condição física para suportar as longas sessões de cinco horas de gravação e é necessário vestir cachemira”.

 

O guitarrista já está a trabalhar numa edição destas sonatas de Carlos Seixas para a Editora Chanterelle que deverá ser publicada no próximo ano. “Há compositores portugueses e de outros países europeus periféricos que merecem um lugar na História da Música. Carlos Seixas é só um exemplo. A questão é: por que é que estes compositores não estão bem representados nos programas de concertos internacionais? Há muitas razões, mas uma delas é falta de consciência dos intérpretes que insistem em omitir as composições dos seus conterrâneos dos seus próprios programas, o que acaba por ser uma barreira no processo de divulgação desta música”, esclarece.

 

O facto de viver na Croácia e de se apresentar em concerto em vários países europeus, como a Eslovénia, Escócia, Holanda, Luxemburgo e Kosovo, coloca-o em situação privilegiada: “o público espera ouvir música portuguesa nos meus concertos e já vários guitarristas e pianistas croatas, eslovenos, escoceses, depois de me ouvirem, me pediram as partituras das sonatas de Carlos Seixas (que desconheciam) para incluírem nos seus programas”.

 

Escola de Guitarra de Zagreb

Pedro Ribeiro Rodrigues nasceu em 1984 em Mira de Aire. Aos 10 anos iniciou os estudos de guitarra na Escola de Música Jaime Chavinha em Minde, na classe de José Carlos Farinha, e mais tarde de Dejan Ivanović. Em 2003, ingressou na Academia de Música de Zagreb, na classe de Darko Petrinjak, membro do Trio de Guitarras de Zagreb e um dos pedagogos mais reconhecidos a nível mundial, que viria a ser também o seu mentor numa Pós-Graduação em aperfeiçoamento Artístico em 2010. Actualmente é professor na Escola de Música “Zlatko Grgošević”, em Zagreb.

 

A “ligação croata” foi, sem dúvida, Dejan Ivanović. “Ele deu-me uma perspectiva completamente nova do instrumento e da música em geral que provem da “Escola de Guitarra de Zagreb”. A meu ver, esta “Escola” é tão merecedora do nome como outrora o foi a “Escola de Piano Beethoven” e consiste numa aproximação ao instrumento completamente inovadora, que o tenta libertar dos estigmas da música popular, respeitando a tradição da Música Clássica, através de uma análise musical e técnica profundas”. Foi  por isso que decidiu ir directamente à fonte à fonte desta “Escola” – Darko Petrinjak. “Este excelente pedagogo, não é só um guitarrista. Ele é contrabaixista, alaudista e um intelectual que não foi só o professor de muitos dos guitarrista contemporâneos de renome, mas também a fonte de inspiração para muitos compositores e o autor de muitas gravações e edições de um valor incrível”.

 

Pensou regressar a Portugal, mas foi ficando: “gosto de viver em Zagreb e fui criando laços aqui. Comecei a trabalhar numa escola de música, que me dá liberdade para ter uma carreira de guitarrista solo e participar em alguns projectos de música de câmara. Sinto-me feliz! Por outro lado gostava de estar mais perto da minha família e ver as minhas sobrinhas a crescer”.

 

A música em Portugal

O facto de não estar em Portugal, impede-o de estar mais informado, de cooperar com os compositores portugueses contemporâneos.

 

E de acompanhar a evolução da Guitarra: “há mais guitarristas com educação superior, o que se reflectirá nas gerações mais jovens. As pessoas estão mais informadas e têm bastante entusiasmo. Tenho que gabar a existência da revista online “Guitarra Clássica” e de inúmeros festivais de guitarra. Espero que os compositores portugueses respondam à evolução dos guitarristas e escrevam mais para este instrumento”.

 

E, como guitarrista, Pedro Ribeiro Rodrigues, deixa alguns conselhos aos jovens estudantes: “é muito importante ir a concertos. Aprende-se mais ouvindo um mau concerto do que uma boa gravação. Fujam da “ilha dos guitarristas” e oiçam outros instrumentos como o piano, quartetos de corda, orquestras e cantores. Não percam o entusiamo porque ser músico é a melhor profissão que alguém pode desejar”.

 

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