Primeiro disco a solo de Luís Magalhães

"Todas estas obras têm uma profundidade muito única"

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Sandra Bastos

  • Luís Magalhães
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Depois de uma carreira marcada por aplausos em palcos de todo o mundo, o pianista Luís Magalhães apresenta o seu primeiro álbum a solo - uma viagem pelo universo de quatro dos mais emblemáticos compositores da tradição pianística: Mozart, Beethoven, Schubert e Brahms. Uma produção da Artway Editions disponível nas principais plataformas digitais e em formato físico.

 

Descrito pela crítica como dono de um "som maravilhosamente cheio" (American Record Guide) e de uma "técnica polida e refinada" (Allmusic.com), o pianista tem-se distinguido tanto a solo como em música de câmara, tendo já gravado dez discos neste último formato. No entanto, a estreia a solo acontece só depois do seu regresso a Portugal, depois de mais de duas décadas a viver no estrangeiro. “Acho que é a altura ideal para fazer esta apresentação. Todas estas obras estiveram comigo durante muitos anos”, explica o pianista.

 

 

"volto sempre àquela única que me faz feliz. Quase como se não tivesse voto na matéria..."

 

A escolha do programa seguiu um critério imbatível. “A premissa foi simples: compositores que amo e peças que sempre quis gravar. Não existe em si nenhum elo de ligação óbvio, simplesmente música que esteve comigo durante muitos anos e que acho que humildemente tenho algo de novo a dizer nelas", conta.

 

Embora de compositores diferentes, todas as obras selecionadas têm “uma profundidade muito única”, já que “refletem um pensamento filosófico sobre a condição humana, os afetos, paixão, desespero, inocência, luto, alegria, e muito mais”. As suas ideias interpretativas são cíclicas e já tocou as mesmas peças “de variadíssimas maneiras, por vezes, forçando narrativas mais provocadoras e diferentes”, mas só uma das formas o faz feliz.

 

Apesar das escolhas serem todas "corretas, coerentes e esteticamente plausíveis", algo lhe dizia que não era por aí que deveria ir:  "Quando isso acontece faço sempre um intervalo de uns dias sem tocar a peça. Salvo raras exceções, quando regresso desse intervalo, automaticamente volto sempre àquela única que me faz feliz. Quase como se não tivesse voto na matéria...".

 

Todas as obras apresentadas neste disco fizeram parte do seu percurso artístico. “São obras que toquei ao longo da minha carreira com intervalos frequentes. Por exemplo, inicialmente aprendi a Fantasia em ré menor de Mozart durante os meus anos formativos do conservatório e depois só voltei a tocar quando já tinha cerca de 30 anos de idade. Dezassete anos mais tarde resolvi registar em disco o meu olhar sobe esta obra. De forma semelhante aconteceu com o resto das obras neste disco”, afirma.

 

 

A tensão entre o respeito pelo espírito da partitura e a sua visão pessoal

 

O processo de gravação foi mais íntimo do que transformador. A tensão entre o respeito pelo espírito da partitura e a sua visão pessoal foi um desafio: “A dificuldade em recrear ou apresentar obras escritas por outra pessoa está totalmente associada com o total respeito na leitura da partitura e o processo de lhe dar-lhe vida no nosso mundo vivo.”

 

“Esta procura de vida dentro da partitura pode ser feita de uma forma mais clínica/académica dando o mínimo suficiente de nós próprios, ou utilizar o texto como um espelho de nós próprios e manifestar esse reflexo na execução. Tenho que admitir que é essa a minha obsessão e o que me leva não só a revisitar reportório passado, mas também aprender novas obras”, sublinha.

 

 

“Penso muito pouco no passado e tento encarar tudo como novo”

 

Não obstante a sua vasta experiência internacional — com apresentações nos EUA, Japão, China, Brasil, África do Sul, Zimbabué, Moçambique, Suíça, Áustria, Alemanha e Portugal — Luís Magalhães encara cada novo projeto como um recomeço. “Qualquer apresentação, seja ao vivo ou em disco, é como se fosse a primeira”, conta. “Penso muito pouco no passado e tento encarar tudo como novo.”

 

Também a sua faceta pedagógica — com masterclasses em instituições como a Juilliard School, além de duas décadas de docência na Universidade de Stellenbosch — moldou a sua abordagem como intérprete: “É claro que o ensino enriquece o vocabulário técnico e criativo do professor.”

 

 

“Espero que este disco traga algumas horas de prazer e que gostem das minhas histórias musicais”

 

O lançamento oficial do álbum realizou-se no passado dia 13 de maio, com um concerto na Casa da Música.  Sobre o que espera que o público leve desta experiência, é claro: “Espero que este disco traga algumas horas de prazer e que gostem das minhas histórias musicais.”

 

Quanto ao futuro, cita o futebolista João Pinto do FCP: “Prognósticos, só no fim do jogo.” Mas deixa a promessa de “vários projetos incríveis em mãos (ou dedos)”  — e o convite para acompanhar as novidades no Instagram @luismagalhaes_piano.

 

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