Sandra Bastos
Telmo Rocha foi o grande vencedor da categoria de Trompa, nível superior, no Prémio Jovens Músicos, arrecadando também o prémio da União Europeia de Concursos Musicais Para Jovens. Nesta partilha com a Da Capo recorda a emoção do concerto dos laureados com a Orquestra Gulbenkian como “se estivesse a flutuar”.
Apaixonado pela trompa e pela música desde cedo, já passou por algumas das salas mais prestigiadas da Europa e defende o valor do ensino musical em Portugal, sublinhando que “o problema é o número de oportunidades e não a nossa qualidade artística”.
Com provas ganhas na Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música e na Orquestra Gulbenkian, encara o futuro como um viciado em música, que só quer sentir-se feliz a tocar.
“tentei escolher obras que mostrassem o melhor de mim”
Esta foi a segunda participação de Telmo Rocha no Prémio Jovens Músicos (PJM), no concurso. Quando concorreu no nível médio obteve um honroso 2.º Prémio. “É o maior concurso de música que temos em Portugal, e temos muito a ganhar, desde a exposição e apoios até às oportunidades de concertos, no país e no estrangeiro”, sublinha.
O primeiro passo foi a escolha de repertório: “tentei escolher obras que mostrassem o melhor de mim e que elas pudessem dar um ar de recital às provas, com início, meio e fim, e não obras soltas”.
A preparação foi exigente e preparada “com bastante antecedência”. E nas duas semanas antes de cada prova, procurou “fazer o maior número de simulações possível”.
“De que servem as nossas conquistas se não tivermos ninguém com quem as partilhar?”
Os momentos mais difíceis surgiram antes mesmo de tocar: “A preparação individual e os momentos de espera antes de entrar em palco foram os mais desafiantes. Durante a prova há alguma ansiedade, mas tentei apenas desfrutar da música.”
Entre os momentos mais marcantes, destaca o apoio dos amigos: “Ver os meus amigos na plateia após cada uma das provas e o concerto dos laureados foi muito especial. De que servem as nossas conquistas se não tivermos ninguém com quem as partilhar?”
“no concerto de laureados foi como se estivesse a flutuar”
Considera o PJM “uma grande afirmação enquanto músico” e espera “ganhar alguma visibilidade, para facilitar futuras colaborações e projetos”.
O concerto dos laureados ficará para sempre na sua memória: “Foi incrível! Depois de tanta pressão, stress e nervos durante a semana, no concerto foi como se estivesse a flutuar”. Confessa que o final “ficou a saber a pouco”: “até me perguntei ‘Já acabou?’ Estava em tal êxtase que passou a correr.”
“Acho que posso ser considerado mesmo um viciado em música”
O gosto pela trompa nasceu cedo e de forma natural. “Desde que me deram a trompa para as mãos nunca mais quis outra coisa. Comecei na banda da minha terra, depois fui para o conservatório e mais tarde para a Escola Superior de Música”.
Nunca se questionou se estava no caminho certo: “Nem sei bem como explicar, comecei e gostei. Acho que posso ser considerado mesmo um viciado em música”.
Ao longo do seu percurso, teve a oportunidade de tocar em salas emblemáticas como a Concertgebouw, a Berliner Philharmonie e a Konzerthaus Berlin — experiências que descreve como determinantes.
Em relação às pessoas marcantes que o têm apoiado incondicionalmente prefere não revelar nomes, pois teme esquecer-se de alguém: “Elas sabem quem são — família, professores, amigos…”
“O problema é o número de oportunidades e não a nossa qualidade artística”
Ao contrário de muitos colegas, Telmo nunca estudou no estrangeiro — e não considera isso uma limitação. “Pode ser complementar, mas não é fundamental. Eu próprio nunca estudei no estrangeiro e isso nunca me impediu de nada. Temos pedagogos muito bons em Portugal. O problema é o número de oportunidades e não a nossa qualidade artística”, afirma.
E acredita numa geração de músicos ambiciosa e talentosa: “Temos músicos muito ambiciosos a fazer coisas incríveis por todo o mundo, exemplos de pessoas e artistas fenomenais.”
Não obstante as oportunidades limitadas, acredita que a música erudita portuguesa vive um momento de crescimento: “As nossas orquestras estão a tocar cada vez melhor, com programações mais aliciantes. Fora outros projetos, ensembles e agrupamentos que nascem e que crescem de dia para dia.”
“O meu único objetivo é sentir-me bem a tocar e ser feliz ao fazê-lo”
Os seus próximos meses serão intensos: está em período de “trial” na Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música e iniciará outro na Orquestra Gulbenkian em janeiro. Paralelamente, desenvolve um projeto de música de câmara que espera apresentar em breve.
Quando questionado sobre objetivos futuros, a resposta é simples e inequívoca: “O meu único objetivo é sentir-me bem a tocar e ser feliz ao fazê-lo. Eu amo isto. Depois disso, tudo o que vier é brinde.”
Telmo Rocha
Telmo Alexandre Cota Rocha, iniciou os seus estudos musicais na Sociedade Filarmónica Rainha Santa Isabel das Doze Ribeiras, ingressou mais tarde o Conservatório Regional de Angra do Heroísmo, na classe de Edgar Marques e é licenciado pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde integrou a classe dos professores Paulo Guerreiro e Luís Vieira.
Já foi selecionado para as duas orquestras de jovens mais prestigiadas da Europa, a Gustav Mahler Jugendorchester e a European Union Youth Orchestra, e toca regularmente em diversas orquestras e ensembles profissionais de norte a sul do país e ilhas.
Teve masterclasses com grandes nomes do mundo da trompa como Adrian Martinez, Anneke Scott, Radovan Vlatković, Sarah Willis, entre vários outros.
E esteve sob a batuta de maestros renomados como Antonio Pappano, Jukka-Pekka Saraste, Kirill Petrenko, Manfred Honeck, Teodor Currentzis.
Foi bolseiro da Barry Tuckwell Foundation e da Yamaha Music Europe Foundation. Premiado em vários concursos nacionais e internacionais, como por exemplo, no Paços' Premium Internacional Music Competition e no Prémio Jovens Músicos.
No ano 2025 é vencedor da audição para academista da Royal Concertgebouw Orchestra, para Solista A na Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música e para Co-Principal na Orquestra Gulbenkian.