Sandra Bastos
Distinguida como Jovem Músico do Ano 2025 e vencedora da categoria de Viola no Prémio Jovens Músicos, Teresa Macedo Ferreira afirma-se como uma das intérpretes mais promissoras da sua geração. Entre Portugal, Escócia, Inglaterra e Bélgica, a jovem violista tem vindo a construir um percurso marcado pela excelência académica e por uma relação intensa com o palco.
Não obstante ter sido a primeira vez que participou no Prémio Jovens Músicos, os objetivos de Teresa Macedo Ferreira eram claros: “Para me desafiar, aprender repertório de períodos vários, para tocar um concerto de memória e, finalmente, para poder atuar em Portugal”.
A preparação foi feita fase a fase, entre o estudo intenso, gravações e preparação mental: “Comecei a preparar o repertório para as pré-eliminatórias em fevereiro e decidi gravar num espaço bonito e com boa acústica para que pudesse usar esses vídeos para criar o meu website”.
“Para além do grande trabalho de interpretação e de memorização, trabalhei muito o mental também”
Em maio, quando recebeu o e-mail com a confirmação de que tinha passado para a fase das eliminatórias, resgatou a sonata de Hindemith op.11 n.º4 e o Concerto de Hoffmeister 1.º andamento com cadência, e adquiriu a peça de Tiago Simas.
O pânico chegou quando soube que tinha passado à fase final, porque tinha apenas três semanas para preparar e memorizar o Concerto de Walton. “Preparei-me ouvindo a gravação do Concerto de Walton interpretado pelo incrível Yuri Bashmet e ia tocando por cima da gravação, quase como quando preparo repertório orquestral”, conta.
“Quando não estudava fisicamente o meu instrumento, estudava as partituras nas viagens de metro e acho que até sonhava com estas mesmas. Para além do grande trabalho de interpretação e de memorização, trabalhei muito o mental também. Treinei todos os passos desde o backstage até pôr as partituras em palco, fazer a vénia, e imaginar-me a ser bem-sucedida em palco”, acrescenta.
“afinal estes anos todos de adaptações a países, culturas e educações diferentes valeram a pena”
Todos os momentos da final foram difíceis. Descreve a própria entrada no palco como dar um salto de fé, com lágrimas nos olhos: “durante a atuação dizia para mim mesma “Teresa, tu consegues, o importante é transmitir emoções para o público”. O resultado foi uma grande feliz surpresa”.
As lágrimas continuaram, mas passaram a ser de alegria: “É uma sensação incrível, acho que desde esse dia, ainda não houve um dia que eu não vertesse uma lágrima por ter ganho este prémio. É uma sensação de alívio, felicidade, orgulho e quase que uma confirmação de que afinal estes anos todos de adaptações a países, culturas e educações diferentes valeram a pena!”
“Só tenho de agradecer a toda uma equipa incansável que fizeram muito por mim e fazem muito pelos jovens talentos em Portugal”
O Concerto dos Laureados surge como outro dos momentos altos desta experiência. Teresa recorda-o com uma mistura de felicidade, nervosismo e empoderamento, sublinhando o simbolismo de tocar com a Orquestra Gulbenkian, algo que descreve como a concretização de um sonho antigo.
Se tivesse de destacar um instante em particular, seria o da atribuição do grande prémio — uma surpresa absoluta: “acho que se percebe pelos vídeos da entrega do prémio, que, de facto, não estava à espera de o ter ganho!“
Questionada sobre o impacto do Prémio Jovens Músicos no seu percurso, a jovem violetista prefere não criar expectativas, até porque considera que o PJM já lhe deu muito, como a concretização de um sonho. “Só tenho de agradecer a toda uma equipa incansável que fizeram muito por mim e fazem muito pelos jovens talentos em Portugal”, destaca.
Admite, no entanto, que esta distinção lhe possa trazer uma maior visibilidade no panorama nacional, enquanto solista, ao longo do próximo ano.
Dírio Alves, o primeiro e grande mestre
Apesar da sua ainda jovem carreira, Teresa destaca o papel do seu primeiro professor, Dírio Alves: “uma grande pessoa e professor a quem devo grande parte deste percurso e todas as bases da minha técnica”. Foi ele quem a acompanhou desde muito cedo e quem, nas suas palavras, “quase obrigou a estudar para fora”, mantendo-se até hoje como uma voz de confiança, aconselhamento e inspiração — inclusive na forma como encara o ensino aos alunos mais novos.
Ao longo do percurso académico, outros professores foram também determinantes. Durante a licenciatura, encontrou em Duncan Ferguson uma referência essencial; no mestrado, trabalhou com Matthew Jones e German Clavijo; e, já nesta fase de transição para o mundo profissional, é Razvan Popovici quem a acompanha. Teresa sublinha ainda o papel das instituições que frequentou, reconhecendo nelas ferramentas decisivas para a consolidação do seu trabalho artístico.
Entre os momentos-chave, destaca a experiência na London Symphony Orchestra scheme, em 2022, em que teve a oportunidade de “acompanhar músicos excepcionais” e “tocar ao lado de profissionais incríveis”.
Igualmente marcante foi a saída de Portugal, aos 17 anos, quando foi estudar para fora — um passo decisivo, tanto pessoal como artisticamente. “Agradeço muito a Londres por me ajudar a encontrar-me enquanto artista”, realça.
Estreia e gravação de um Concerto para Viola em 2026
A relação da jovem violetista com a música começou cedo, mas não seguiu um percurso linear. Aos quatro anos, motivada pelo exemplo dos irmãos, quis aprender um instrumento; aos cinco, escreveu num diário que queria ser músico quando fosse grande. Ainda assim, durante a adolescência, o sonho oscilou — chegou a imaginar um futuro como veterinária. Foi novamente a intervenção de Dírio Alves, seu primeiro professor, no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, que a levou a encarar a música com maior seriedade e a perspetivar um caminho profissional.
Quanto ao futuro, evita revelações prematuras, admitindo apenas que uma oportunidade particularmente relevante poderá surgir em breve. Entre os projetos já confirmados, destaca-se a escrita de um concerto para viola, financiado pelo British Arts Council, que terá estreia e gravação em junho de 2026. A obra, encomendada ao seu companheiro, guitarrista de jazz e compositor britânico, será interpretada com a Docklands Sinfonia e a banda Grande Família, sob a sua direção, e contará com influências do jazz e do fado.
A estes planos junta-se o lançamento de um website pessoal no início de 2026 e a organização de uma digressão a solo pela Escócia — “sítio que me ajudou a crescer enquanto músico”.
“é possível um jovem músico fazer música ao mais alto nível com tudo o que Portugal oferece”
Para Teresa Macedo Ferreira, a formação de um jovem músico não obedece a fórmulas rígidas. Acredita que a mobilidade — viajar, conhecer outras culturas, ouvir outras linguagens — desempenha um papel determinante no crescimento artístico, permitindo aos intérpretes absorver novas formas de expressão e de pensamento musical.
Ainda assim, recusa a ideia de que estudar no estrangeiro seja uma condição obrigatória para alcançar a excelência: “acho que é possível um jovem músico fazer música ao mais alto nível com tudo o que Portugal oferece”.
No seu caso concreto, porém, estudar no estrangeiro foi fundamental: “Ter as grandes oportunidades de me expressar numa outra língua, conviver com pessoas de todo o mundo e ter aprendido nas escolas de topo, mudaram-me enquanto músico e mais importante enquanto pessoa!”
“uma geração muito flexível, criativa, corajosa e com garras para reapresentar Portugal”
Sobre o panorama da música erudita em Portugal, destaca o crescimento do número de orquestras e festivais — tanto de música sinfónica como de câmara — e de colaborações entre vários géneros musicais.
É neste contexto que enquadra a nova geração de músicos portugueses, da qual faz parte. Com uma metáfora expressiva, compara-a ao futebol nacional no cenário internacional: “uma geração muito flexível, criativa, corajosa e com garras para reapresentar Portugal dentro e fora ao mais alto nível”
Teresa Macedo Ferreira
Teresa Macedo Ferreira iniciou os seus estudos no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, com Dírio Alves. Licenciou-se com First Class no Royal Conservatoire of Scotland, sob a orientação de Duncan Ferguson, e concluiu em 2024 o Guildhall Artist Masters com distinção, na Guildhall School of Music and Drama, onde estudou com German Clavijo e Matthew Jones.
Atualmente, estuda com Razvan Popovici no Royal Conservatory of Antwerp.
Durante a licenciatura, foi premiada com o 1.º Prémio no Watson Forbes Competition (2021), o 2.º Prémio no Mable Glover Competition (2020) e colaborou com o Scottish Ensemble e a Royal Scottish National Orchestra.
Foi academista da London Philharmonic Orchestra (2023) e da London Symphony Orchestra (2022), e é músico extra da Orquestra Casa da Música.
Em 2025, venceu o Prémio Jovens Músicos – Viola, o Prémio Maestro Silva Pereira / Jovem Músico do Ano, o Prémio do Círculo Richard Wagner e o Auer-von-Welsbach-Preises. Encontra-se atualmente em avaliação para a posição de chefe de naipe da Ulster Orchestra.
Fotos: Jorge Carmona, Mary Good Photo e Adriana Romero