Sandra Bastos
Ricardo Carvalhoso é o novo tubista da Philharmonia Zürich, Orquestra da Ópera de Zurique, depois de vencer a audição para Tuba –Solo, em Abril de 2015. Junta-se assim aos seus colegas portugueses, Filipa Nunes (clarinete), Samuel Bastos (oboé) e o academista Marco Silva (trompete). O jovem tubista deixa, assim, a Orquestra Filarmónica de Nice, onde estava há três anos.
“No fundo este sempre foi o meu sonho mas nunca pensei chegar tão longe”
De Arcos de Valdevez para Zurique. “No fundo este sempre foi o meu sonho mas nunca pensei chegar tão longe”, confessa Ricardo Carvalhoso. A vida não vai mudar muito – “estudar, tocar e evoluir”, o que muda é a “instituição de trabalho”.
Como chegou até aqui, o percurso que teve de percorrer, no fundo o segredo do sucesso: “A preparação é o elemento mais importante para ser bem-sucedido numa audição de orquestra. Numa primeira fase é necessário um estudo individual no aperfeiçoamento do reportório para o concurso, atingir o "standard" requerido. Posteriormente, tomar uma opinião profissional, seja através dum professor ou de outros colegas e desta forma realizar várias simulações que tragam amadurecimento à performance”.
Depois, os nervos: “O sistema nervoso é algo muito pessoal, cada um deve aprender analisar-se após cada experiência. No final de contas uma primeira ronda numa audição de orquestra pode ser tão curta como cinco minutos por isso é melhor deixar os nervos em casa (risos)”.
“há cada vez mais jovens portugueses a aventurarem-se pelo mundo fora”
Chegar a uma orquestra com portugueses também não o deixa indiferente: “É fantástico poder chegar ao local de trabalho e falar a nossa língua. Para além disso também temos a oportunidade de fazer umas "jantaradas e ver a bola" de vez em quando”.
Sobretudo é sinal de que algo está a mudar no panorama dos músicos portugueses: “Algo está a mudar, sem dúvida! Há 15 anos, quando eu comecei a aprender música, estudar no estrangeiro era visto como um privilégio e estava associado a certas dificuldades financeiras e outros preconceitos. Hoje em dia creio que esse tabu já foi quebrado e há cada vez mais jovens portugueses a aventurarem-se pelo mundo fora. Essa é a verdadeira razão pela qual na última década se tem verificado um sucesso acentuado dos portugueses no panorama musical além-fronteiras".
“em Portugal dá-se muitas vezes o valor a quem não o tem ou a quem não se o devia dar”
No caso da Tuba em particular, destaca “o trabalho desenvolvido nas últimas décadas pelos tubistas portugueses, com grande destaque para o excelente professor e artista internacional, Sérgio Carolino, já está a dar frutos há muitos anos.
No entanto, há ainda muito trabalho a fazer, sobretudo ao nível do apoio aos artistas: “Algo que sempre me deixou perplexo é observar como a valorização das artes e da cultura pode ser tão ímpar em relação ao verdadeiro valor dos nossos artistas”.
Diz que “em Portugal dá-se muitas vezes o valor a quem não o tem ou a quem não se o devia dar. Sendo necessário às vezes ir para fora para apreciar como os portugueses se integram e se fazem reconhecer pelas comunidades estrangeiras”. E exemplifica: “O talento é como as ervas daninhas, nasce em qualquer canto. Mas o talento português só nasce em Portugal e, em Portugal, sempre se arrancaram muitas "ervas daninhas". Felizmente essa mentalidade está a mudar e os jovens músicos portugueses começam a poder acreditar que vencer é possível”.
“dezenas de estudantes licenciados em artes abandonam o país devido à ausência de meios para veicular as suas carreiras”
Carvalhoso também passou pelas comunidades estrangeiras. Após se licenciar na ESMAE com Sérgio Carolino, continuou a sua formação artística sob a orientação do Prof. Anne Jelle Visser, na Universidade das Artes de Zurique. Defende que uma das maiores diferenças no ensino é “a diversidade de oportunidades que são postas à disposição dos estudantes e o número de infra-estruturas existentes”. E, claro, “o apoio e atenção do público que na maior parte dos casos suporta financeiramente o ensino e a música em geral”.
“Não quero com isto dizer que a qualidade do ensino em Portugal seja inferior, eu próprio sou licenciado em Portugal. Contudo, e para desgosto do contribuinte, nos últimos anos, dezenas de estudantes licenciados em artes abandonam o país devido à ausência de meios para veicular as suas carreiras”, sublinha.